Estruturando a pesquisa quantitativa com usuários: Um guia prático

UXtation
7 min readSep 20, 2024

Escrito por: Diego Curumim

Introdução

A implementação de pesquisas quantitativas com usuários requer um processo claro e bem estruturado. No entanto, o que fazer quando essa estrutura ainda não existe? Criar e institucionalizar esse processo envolve não apenas a elaboração de etapas operacionais, mas também a promoção de uma cultura organizacional que valorize a pesquisa como parte fundamental do desenvolvimento de produtos. Neste artigo, descrevo como minha equipe de UX enfrentou esse desafio ao desenvolver um processo de pesquisa quantitativa desde o início, alinhado às necessidades do projeto e da empresa, além de compartilhar as etapas envolvidas na construção desse modelo.

O Desafio: criando a cultura de pesquisa

A primeira tarefa era não apenas realizar a pesquisa, mas estabelecer uma cultura de pesquisa entre os stakeholders, garantindo que todos entendessem seu valor e contribuíssem para sua aplicação. Para isso, adotamos uma abordagem iterativa, utilizando a metodologia Scrum, e envolvemos Product Owners (POs) desde o início. Com essa colaboração, desenvolvemos um processo flexível e escalável, capaz de se ajustar tanto às demandas presentes quanto futuras, com o objetivo de obter insights valiosos que orientariam o design e desenvolvimento de produtos digitais.

O Processo de pesquisa

O processo de pesquisa foi estruturado em seis etapas principais, cada uma com um objetivo claro:

  1. Alinhamento inicial
    Antes de começar qualquer pesquisa, é fundamental identificar os stakeholders envolvidos. Utilizamos uma tabela para mapear os tomadores de decisão, seu grau de influência e interesse no projeto. Com essa visão clara, conduzimos uma sessão colaborativa para levantar as questões iniciais e definir a direção da pesquisa. Esse momento funciona como um brainstorming, onde todas as dúvidas e suposições são mapeadas.

2. Definição de hipóteses
Após o alinhamento inicial, passamos à definição de hipóteses por meio da Matriz CSD (Certezas, Suposições e Dúvidas). Isso nos ajudou a priorizar as perguntas que deveriam guiar nossa pesquisa. Em colaboração com as equipes de negócios e experiência do usuário, aplicamos a Matriz Impacto x Esforço para definir as questões de maior relevância e que demandavam mais atenção, considerando seu impacto no produto e o nível de conhecimento prévio.

3. Definição do método de pesquisa
Com as hipóteses e perguntas principais mapeadas, selecionamos o método de pesquisa mais adequado. No nosso caso, optamos por uma pesquisa quantitativa, utilizando a técnica de UX Survey. Essa escolha se deu por sua capacidade de alcançar um grande número de participantes e proporcionar uma análise estatística robusta. A pesquisa poderia ser realizada tanto presencialmente quanto remotamente, aumentando a flexibilidade do processo.

Benefícios:

  • Maior abrangência e potencial de generalização.
  • Validação de dados qualitativos já levantados.

Riscos:

  • Resultados mais superficiais.
  • Baixa profundidade nas respostas.

4. Plano de pesquisa
Plano de Pesquisa: objetivos e critérios
Nesta etapa do plano de pesquisa, compilamos todas as informações e definições elaboradas anteriormente para garantir que o processo seja transparente e compreendido por todos os envolvidos. O principal objetivo é alinhar expectativas, assegurando que tanto as perspectivas de experiência do usuário (UX) quanto as de negócios estejam claramente refletidas. Para isso, é fundamental que a documentação seja construída de forma colaborativa, envolvendo todas as partes interessadas — como as equipes de design, desenvolvimento e stakeholders estratégicos.

A criação colaborativa da documentação não apenas promove maior engajamento das equipes, mas também assegura que possíveis lacunas ou mal-entendidos sejam identificados e corrigidos desde o início. Isso garante que o processo esteja alinhado com as metas do projeto e com os valores da empresa. Além disso, a documentação serve como uma referência centralizada e evolutiva, podendo ser consultada ao longo do projeto para revisões, alinhamentos ou ajustes conforme necessário.

Nesta fase, além de compilar todas as informações, estabelecemos critérios claros para garantir a qualidade da pesquisa e dos dados coletados. Esses critérios foram fundamentais para alinhar expectativas entre as equipes e assegurar que a pesquisa fosse conduzida de maneira consistente. Os principais critérios definidos foram:

  • Critérios de seleção de participantes: Para garantir que os resultados fossem representativos do público-alvo, estabelecemos perfis de usuários que deveriam participar da pesquisa, baseando-nos em suas interações anteriores com o produto.
  • Critérios de validação das hipóteses: Parâmetros claros foram estabelecidos para confirmar ou refutar as hipóteses, com a definição de métricas quantitativas que indicariam o sucesso ou a falha na validação.
  • Critérios de sucesso da pesquisa: Consideramos a pesquisa bem-sucedida se conseguíssemos obter uma amostra estatisticamente significativa de respostas que gerassem insights relevantes para a tomada de decisões de produto.

Quais perguntas devemos fazer?
Após a definição do método de pesquisa, passamos à criação do roteiro com as perguntas específicas e seus respectivos objetivos. Esse roteiro orienta tanto o recrutamento dos participantes quanto a aplicação da pesquisa. Cada método de pesquisa exige perguntas e abordagens próprias, de acordo com os objetivos individuais de cada estudo.

É essencial que o responsável pela criação desse roteiro mantenha a integridade dos dados. Em nenhuma etapa da pesquisa o viés deve influenciar as perguntas ou direcionar os participantes para respostas esperadas. A neutralidade é fundamental para garantir a validade dos resultados. Esse roteiro pode ser utilizado tanto em pesquisas quantitativas quanto qualitativas, sempre respeitando as particularidades de cada abordagem.
Para o nosso formulário, podemos utilizar dois tipos principais de perguntas, cada uma com objetivos distintos:

  • Perguntas fechadas: Os respondentes têm um número limitado de opções, como respostas de Sim/Não, múltipla escolha ou escalas, como a escala Likert.
  • Perguntas abertas: Os participantes podem responder livremente, sem restrições de formato ou limite de opções.

Pesquisa quantitativa
A UX Survey é uma das várias ferramentas disponíveis no universo de técnicas de UX Research. Para garantir seu uso eficaz, é importante compreender quando ela é mais adequada para a sua necessidade.

De forma geral, a UX Survey ajuda a:

  • descobrir por que os usuários visitam seu site ou fazem o download do seu aplicativo;
  • coletar dados quantitativos que validam ou complementam insights qualitativos obtidos em outras pesquisas;
  • obter feedbacks sobre novas funcionalidades ou versões de interface;
  • medir quantitativamente a qualidade do seu produto;
  • avaliar o nível de satisfação dos seus usuários.

Além disso, é um método rápido e de menor custo, com recrutamento ágil.

Nossas pesquisas quantitativas serão conduzidas por meio de questionários/formulários. Para isso, estruturamos as perguntas, definimos as opções de resposta e o objetivo de cada uma delas — ou seja, o que esperamos validar com cada resposta. No final, criamos o título, o texto de recrutamento e a introdução do formulário.

Pesquisa qualitativa
A pesquisa qualitativa coleta dados mais profundos, explorando comportamentos, hábitos, opiniões e preferências dos usuários. Os resultados desse método de pesquisa são mais difíceis de analisar, demandando mais tempo para a interpretação e síntese dos dados.

Também é possível combinar perguntas quantitativas e qualitativas em uma mesma pesquisa, obtendo assim o melhor de ambos os métodos. No entanto, é essencial que essa combinação seja feita com moderação, para garantir a clareza e objetividade dos resultados.

Portanto, ao utilizar um mix de pesquisas qualitativas e quantitativas, você garante dados complementares, criando uma base mais robusta para a tomada de decisões.

5. Consolidação dos dados
Após a coleta de dados, utilizamos o Diagrama de Afinidades para agrupar respostas semelhantes e identificar padrões. Isso permitiu uma análise mais clara dos resultados, que foram então organizados em uma Matriz de Sugestões. Essa matriz foi fundamental para definir ações baseadas nas percepções dos usuários, levando em consideração o impacto e a complexidade de cada sugestão.

6. Apresentação dos dados
A apresentação dos resultados foi feita de forma clara e objetiva, adaptada ao perfil dos stakeholders. Organizamos a apresentação em cinco partes:

  • Resumo Geral: uma visão ampla dos principais achados.
  • Principais Achados e Sugestões Gerais: evidências e propostas de melhoria.
  • Outras Questões: insights adicionais que surgiram durante a pesquisa.
  • A Pesquisa: detalhes sobre o método, datas, perfil dos participantes e resultados quantitativos.
  • Matriz de Sugestões: representação gráfica das propostas, facilitando a criação de um plano de ação.

Acompanhamento pós-Implementação

Após a entrega do relatório, o processo continua com o acompanhamento da implementação. Acompanhamos de perto a implementação das sugestões para garantir que elas estejam gerando o impacto esperado nos usuários. Esse acompanhamento contínuo é essencial para ajustar eventuais decisões e manter o produto alinhado às necessidades reais dos usuários.

Conclusão

A criação de um processo de pesquisa quantitativa com usuários, além de fornecer insights valiosos, é uma ferramenta poderosa para promover a cultura de pesquisa dentro das empresas. Ao envolver os stakeholders desde o início, garantir um planejamento bem estruturado e acompanhar os resultados pós-implementação, é possível criar um ciclo contínuo de melhorias no produto, sempre focado na experiência do usuário.

Agora, eu gostaria de saber:
Quais métodos de pesquisa você utiliza para melhorar a experiência do usuário no seu produto? Faria algo diferente do que compartilhei aqui?

Deixe seu feedback para que possamos continuar evoluindo e entregando sempre o melhor conteúdo.
Você pode me contatar pelo LinkedIn (Diego Curumim) ou enviar um e-mail para uxtation@gmail.com.

Nos vemos na próxima estação! 🚉

--

--

UXtation
UXtation

Written by UXtation

Somos um coletivo formado por Luana C, Diego Curumim e Rafa Marujo com interesse de compartilhar experiências e práticas que englobam o ux/ui e design em geral.

No responses yet