Os profissionais camaleões e o tal do “depende” nos projetos de produto

UXtation
6 min readFeb 24, 2022

Escrito por: Luana Conde

Através da minha formação em Design pela UniFOA, pela minha pós-graduação em User Experience pela UAM e de 10 anos trabalhando com Design, pude desenvolver este breve artigo com um compilado de experiências e conhecimentos que adquiri durante meu amadurecimento pessoal e profissional. Atualmente, sou UX/UI Designer pela Iterative, trabalhando diretamente realocada na ConectCar, onde faço parte de um time de Design Cross que atende várias squads, tendo contato direto com todos os produtos da empresa. Tive a oportunidade de me desenvolver junto a vários outros profissionais no mercado, sempre destinada a ambientes inovadores e criativos, saindo muitas vezes da minha zona de conforto.

Para se destacar profissionalmente no desenvolvimento de projetos significativos em um mundo VUCA — mundo de volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade — onde as oportunidades e os ambientes mudam radicalmente da noite pro dia, é necessário ter a capacidade de se adaptar e considerar as novas exigências do mercado e do mundo. Estamos buscando cada vez mais por soluções através de novas abordagens, para problemas já conhecidos, tanto para o nosso universo particular e profissional.

Uma das palavras mais ditas e pesquisadas entre 2020 e 2021 foi “Empatia”, de acordo com o Dicio — Dicionário online de português, claramente devido a pandemia mas quem já tem alguma bagagem no mundo do Design, sabe o quanto essa palavra é mencionada no nosso dia a dia, durante os cursos, durante a faculdade, no trabalho e na comunidade como um todo. Até porque, uma das principais metodologias, o Design Thinking, possui uma etapa especialmente para isso, onde é necessário ter uma compreensão geral do usuário, seus contextos, necessidades, dores, desejos, para colocá-lo no centro do desenvolvimento da solução. E é sempre bom lembrar que você, designer, não é o seu usuário e a solução não é pra você.

“Para resolver problemas, você precisa se adaptar aos problemas”

Assim como o Design Thinking e mais outras centenas de metodologias como as citadas por Munari, Baxter e Bonsiepe, nenhuma delas é uma regra soberana, nada é escrito em pedra e tudo precisa ser analisado e adaptado ao problema em questão, sempre levando em consideração o usuário e certas limitações do projeto. Lembrando que essas metodologias não são consideradas lineares, ou seja, você pode aplicar e seguir um ritmo que seja mais coerente para o projeto e para o time, além de ter a liberdade de combinar etapas, frameworks e diferentes métodos.

“Mas Luana, o que você quer dizer com ‘limitações do projeto’?”

No mercado de Design podemos trabalhar com vários tipos de produtos, contextos de entregas, maturidade das empresas e dos times (e aqui eu vou focar um pouco mais em Produtos digitais e UX, ok?). Podemos ser responsáveis por uma solução que ainda não foi lançada, até mesmo por um produto que precisaremos tirar da beira da falência. Cada contexto e cada cenário precisará de abordagens diferentes, correto?

Voltando para o Design Thinking, imagine que durante a etapa de Teste, surjam insights valiosos em relação a Definição do problema, você não pode deixar isso passar porque essas reflexões impactam diretamente na solução, então tá tudo bem retornar para a etapa de Definição e fazer mais uma rodada de análise. Esses métodos precisam ser aplicados para nos auxiliar e não nos limitar como profissionais, precisam ser vistos como um método de organização que facilita os processos de criação.

Outro ponto interessante a ser abordado é o fato de que tudo depende de tudo e nunca trabalhamos sozinhos. Sempre estamos em contato com pessoas reais, sejam nossos usuários, stakeholders, colegas de trabalho, e por isso existem N fatores que podem influenciar na complexidade da adaptação de um projeto. Por exemplo:

  • A própria maturidade dos stakeholders e da empresa em relação a visão de Design e Produto;
  • Limitações técnicas da parte de desenvolvimento e até mesmo do time de Design;
  • Métricas e regras de negócio;
  • Responsabilidade e discernimento dos gestores;
  • Liberdade e abertura para soluções inovadoras;
  • E até mesmo o próprio mercado do Design como um todo.

O todo impacta o todo. Além de sermos profissionais focados em resolução de problemas e criação de soluções inovadoras, também precisamos saber nos ajustar às situações adversas, entendendo qual a abordagem adequada para cada uma delas e sempre de olho no propósito do projeto.

Se estamos falando de adaptabilidade precisamos falar também de Metodologia ágil mas não vou me aprofundar muito nesse assunto, já que muitos a consideram quase como uma filosofia de vida. Ao entender a base do conceito da Metodologia Ágil, você será capaz de aplicá-la em qualquer espectro da sua vida, mesmo sendo um processo direcionado ao desenvolvimento de softwares, é possível absorver a essência e ajustar em contextos individuais. Ser adaptável também é sobre ser ágil.

Mas afinal, como eu posso ser mais adaptável?

Como já mencionado, analisando cada projeto, podemos fragmentá-los de diversas maneiras, e a partir de bons anos trabalhando com Design, pude perceber a necessidade de aperfeiçoar algumas Soft Skills essenciais para ter uma visão mais holística de um projeto e do universo de Produto.

  • Questione sempre que possível
    Se você acredita que ter dúvidas e pedir ajuda é, de certa maneira, demonstrar fraqueza, tá na hora de trabalhar nisso. É essencial que nós, designers, sempre estejamos abertos a questionar, debater e ouvir o outro. Além de sempre estarmos à procura de respostas válidas e reais. Isso vale principalmente para o ambiente de trabalho e ao analisar possíveis ideias, entregas e demandas que surgem durante o projeto. Sempre elabore na sua mente perguntas como “e se…?”;
  • Desaprenda e reaprenda
    Esteja disposto a deixar de lado tudo que você sabe para reaprender de uma maneira diferente, por outra perspectiva e interpretação. Isso ajuda a trabalhar sua habilidade de absorção de informações e atenção aos detalhes. Sabe quando você assiste ao mesmo filme pela terceira vez e consegue perceber algo diferente que não havia notado antes? Pois é…
  • Trabalhe na sua resistência a mudanças
    Convenhamos, zona de conforto não tem esse nome atoa, não é mesmo? A questão é que todos nós temos certos limites quando o assunto é mudança e sempre preferimos algo que já é conhecido e familiar, mas o que poucos sabem é que podemos dar apenas um pequeno passo além da zona de conforto e entrar na zona de aprendizagem. Não estaremos em um ambiente extremamente confortável e muito menos em um ambiente desolador, será o espaço perfeito para colocar em práticas novas ideias, desenvolver novas habilidades e se arriscar fora de um padrão habitual;
  • Seja resiliente e aprenda com seus erros
    Erros são caminhos poderosos para o crescimento quando interpretados da maneira correta. Procure entender e analisar onde exatamente ocorreu o erro, o que você poderia ter feito de outra forma, em qual etapa você pode se aperfeiçoar e se concentrar da próxima vez para que o erro não se repita e leve isso como lição, não como fardo.

Não existe receita de bolo!

Como também não existe o profissional perfeito (!!!)

Não se enganem, ser adaptável não é ser perfeito e muito menos ser impecável. É necessário estar aberto às suas próprias falhas, trabalhar na sua inteligência emocional e no seu autoconhecimento. Estamos cada vez mais focados em analisar comportamentos dos nossos usuários, mas também precisamos de um instante para analisar os nossos.

“Todos os caminhos da ação são arriscados, então a prudência está em calcular o risco e agir decisivamente. Cometa erros de ambição, e não erros de preguiça” — Nicolau Maquiavel (adaptado)

O processo de criação e desenvolvimento de um projeto, seja lá qual for, tem suas próprias especificações, limitações e contextos, cada processo é único porque esse somatório de fatores é único, como os profissionais que os desenvolvem. Sempre tenha em mente que as metodologias não são regras para serem seguidas à risca, nosso trabalho é ter a sensibilidade para interpretar em qual etapa precisaremos de mais afinco para nos guiar para a solução ideal.

Mas agora conta pra gente, o que você tem feito para ser um profissional cada vez mais adaptável?

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Somos um coletivo formado por Luana C, Diego Curumim e Rafa Marujo com interesse de compartilhar experiências e práticas que englobam o ux/ui e design em geral.

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